Ai Meu Deus Que Estou Tão Mal

Pois é… afinal o Natal (espirro), não foi a tal épica festa de família que pensei e planeei e, não foi por causa da família, nem por causa das prendas e, muito menos, pela sempre apreciada gastronomia da época, mas (espirro) por causa de uma grandessissima e extraordinária filha-da-puta (desculpem lá o epíteto) de uma enorme de tão grande que era a constipação que me apanhou e que, me confinou praticamente ao perímetro do sofá (espirro, espirro).
Assim, nas garras do vírus, de tal forma fodido dos cornos (lá vai mais uma… mas nenhuma língua é suficientemente viva nestas alturas sem o vernáculo) que até pensamentos iconoclastas me assaltam entre espirros e o retomar da respiração e assim, lá me arrastei nestes dias sem tirar o partido necessário e desejado da mesa, da família, da alegria, enfim… da festa.

Vejo na TV (espirro), que as mortes na estrada aumentaram este ano. Para os inocentes incautos forçados a sair à rua nesta época, fica o pesar dos números, enquanto que, para os desgraçados suicidas que, sob os artifícios do álcool experimentam a histérica sensação da velocidade e provocaram o acto, fica a satisfação de saber que já não fazem mal a mais ninguém (nem espirrei).
Continuando.

Esperando conseguir dar-lhe até ao dia 31 a definitiva naifada lombar, para que, esta extraordinária sensação, comum aos fracos quando perante uma força maior que, amarfanha a faculdade de respirar, (espirro, espirro, espirro. Porra! Isto dá cabo da saúde mental de um gajo), dizia eu ou queria dizer que, ficam já aqui (espirro, espirro… Gaita que não me consigo dedicar ao tricot social em paz) não vá a coisa enveredar por caminhos mais árduos e piorar, os meus desejos veementes e ardorosos de uma excelente passagem de ano, e que, o Novo Ano vos traga o concretizar daqueles sonhos que julgam serem impossíveis.
(espirro, espirro, espirro, recuperando o ar…) Gaita… vou mas é beber uns bagaços e espirrar para outro lado.


Nota: Antes de ir e com esforço a roçar o desumano, mas necessário porque merecido, só mais uma palavrinha:
Ao que parece, o semanário SOL nomeou o blog do Kaos, “WeHaveKaosInTheGarden”, blog da semana.
A única admiração digna de registo, é a imprensa oficial ter reparado num blog que não é alinhado com as “famílias dominantes” da blogosfera e não a sua qualidade que, eu próprio, já tinha referenciado como um dos seis melhores blogs temáticos de 2006 aqui.

Daqui e com um grande abraço, parabéns Kaos!

Boas Festas!


Porque pais natais comuns, pluralizados e substantivos há muitos, mas Pai Natal de nome próprio há só um, estruturalmente composto morfo-sintáctico, se é que, alguém, ainda sabe que raio é isto e percebe o palavrão que enobrece o substantivo comum...

Mas em frente, sem nuances ou escapadelas que o post está no inicio e não convém tergiversar porque acrescenta linhas ao texto.

Ora, sendo assim, o São Nicolau não tem par, ele é o The One and Only, e, para os incautos amantes da verdade ou consequência que podem ter a tentação de me contradizer, vão já aqui de seguida e sem adulações as palavras de Machado de Assis:

"Espantem-se à vontade; podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir."

Nem mais, digo eu que faço este post como escovo um fato novo, para desejar a todos em geral e em particular aos leitores desta tasca; a festa da vossa vida e que, o Pai Natal não seja “unhas-de-fome” e vos encha a meia e a mesa, com aqueles presentes que vos farão felizes que, entretanto, eu vou comer em excesso, rir em excesso, conviver em excesso e esperar que o Pai Natal seja excessivamente gastador.

Agradecimento especial ao Jorge PG, pela cedência do São Nicolau.

Uma esperança chamada Maria

Findava o ano de 75 quando o mundo desabou sobre ela. O partido, que tinha sido até aí a sua vida, a sua razão de existir e que, a desviara de paixões, contrárias então à moral proletária, pela mão de um seu recrutado na Faculdade de Direito de Lisboa: o “Camarada Veiga” que assinava no “Luta Popular” dirigido pelo Fernando Rosas, um artigo duríssimo com o titulo “Fogo sobre a renegada Morgado”, faria com que, o divórcio se consumasse.

O “Camarada Veiga”, opositor da Linha Negra de Saldanha e, empedernido militante da Linha Vermelha liderada pelo “educador da classe operária”, não sabia então, que prestava um serviço (talvez o único mas que se agradece), ao povo português.

Maria, desiludida com o partido e com o rumo da democracia, desilusão consolidada por uma breve passagem pela cadeia das “Mónicas”, tornando-a e ao seu marido Saldanha Sanches que foi para ao Forte Militar de Elvas, nos primeiros presos políticos pós 25 de Abril, em vez de se entregar aos lavores, encontra refúgio nos estudos candidatando-se ao Centro de Estudos Judiciários.

Optando pela magistratura do Ministério Público, a justiça passa a ser a sua nova paixão, enquanto, o antes empedernido militante “Camarada Veiga”, trocava a Linha Vermelha do "educador da classe operária" pelo laranja de outro partido, aonde, se viria a destacar nos jogos de bastidores.

Maria viria a ser mais tarde, uma arguta directora nacional adjunta da Policia Judiciária. O “Camarada Veiga” primeiro ministro de Portugal. Maria tem a sua fase áurea quando chefia o DCICCEF - departamento de combate ao “colarinho branco” que, pôs em andamento, vários mal cheirosos, sinistros, escandalosos e melindrosos processos neste país, granjeando-lhe então o merecido titulo de “Dama de Ferro”, mas que, no reverso da medalha, a puseram com uma abstrusa acção administrativa, na prateleira. O “Camarada Veiga” numa altura extremamente difícil para o país e depois de várias tropelias, prefere abandona-lo a troco de um lugar de prestigio na U.E., entregando-o ao inverosímil e absurdo Santana que se viria a revelar um impensável governante

Hoje, enquanto o “Camarada Veiga”, prepara o terreno na procura de um tacho pós-presidência da U.E., a Maria que trocou as gangas por Ana Salazar, é convidada pelo aparentemente empenhado, novo procurador-geral da República para sua adjunta, com a difícil tarefa, de dirigir e coordenar a investigação de tudo o que esteja relacionado com o processo “Apito Dourado”.

Veremos se a deixam, desta vez, terminar o trabalho, porque os negócios escuros do futebol e a arrogância das suas subespécies, têm agora à perna, uma mulher com eles no sitio.

O Ser e o Ter

Esta é uma época em que a caixa de correio electrónico (fica bem, assim à portuguesa) se enche de mensagens recorrentes mas de boa intenção em louvor da celebração do nascimento de Cristo que, não fossem os ajustes do Papa Gregório e já se teria celebrado, provavelmente com os calores de Agosto, mas que, para o caso, pouco importa, porque já não celebramos o Cristo histórico, mas sim o Místico que está para além do tempo e transporta uma mensagem de amor e de exemplo. Outras ainda, em louvor da família e, como também é hábito, centradas com saudosismo no Ser e nas suas virtudes. Por isso, se o Ser, pode hoje considerar-se fronteira do nosso imaginário consentâneo com o nosso passado, como o “era uma vez” ou “em tempos que já lá vão” dando também lugar a fonemas fascinantes como o “antigamente” ou o no ”meu tempo”, o Ter é real, porque nos ocupa e ocupa o presente e, por isso, a minha reflexão sobre este, sem a presunção de tentar ser profundo, porque não tenho estaleca para essas coisas.

Embora o Ter carregue consigo uma carga nefasta, não creio que o seja, mas, ainda assim, não o consigo dissociar de um sentimento de impunidade minador dos alicerces morais da sociedade onde, alastra a convicção de que tudo é permitido e se alarga à esfera da marginalidade remetendo, segundo alguns mais cépticos, para segundo plano a teoria de Hobbes sobre “o instinto de conservação dos homens”.

Sendo hoje a vida em sociedade comparada a um vulcão em actividade, e isso nem está em discussão, quando os prazeres são de vício e as necessidades sempre crescentes, por isso; se multiplicam os assaltos, os homicídios, os crimes económicos, a corrupção etc, etc, numa frequência de ilicitudes reveladora do desrespeito generalizado das normas civilizacionais como; os padrões éticos, as regras de cortesia, ou o respeito pela lei social que, impunemente coabita com a violência do próprio estado em favor dos grupos dominantes e isso, provoca no simples cidadão, sentimentos de inveja ao assistir ao enriquecimento dos seus iguais e encontrando na indigna imoralidade de procedimentos a explicação, o que, vai dar ao mesmo (mais coisa menos coisa) do que já escrevia o Eça em 1871.

“Se é triste envelhecer num mundo que se conhece, é muito mais triste envelhecer num mundo que não se conhece e de que não se gosta” como dizia Chateaubriand (uma citação assim en passant, fica sempre bem).

Assim, sendo eu, nesta festa por tradição de família, um consumista, por mais espantoso que à primeira vista pareça, o Ter, tem também inegáveis virtudes, como a possibilidade de reinventar plataformas, que não sendo do foro ou equivalente ao Ser, nos permitem a ponte para algum conforto e portanto uma melhor qualidade de vida e aqui é que está o concreto da coisa.

Só um exemplo, que embora pareça mal amanhado, não o é: O crédito. Esse malfadado a que os portugueses arrojadamente se atiram sem medo e que, não sendo uma herança genética, bem usado, repito; bem usado e não a ajavardar, pode trazer a almejada qualidade de vida (se algum bancário me ler, pensará que somos colegas. Não, não somos, embora o possa parecer numa interpretação simplista) Sabemos que, os nossos pais (caso dos mais velhos), ou os nossos avós (caso dos mais novos), levavam toda uma vida a juntar uns dinheiros (só de pensar nisso, as tremuras atacam-me as pernas), para um dia, puderem comprar a almejada casa de sonho, dos seus sonhos, que invariavelmente eram pequenos, concluindo, também invariavelmente ao fim de uma vida, que pouco usufruto dela tirariam. Seria para os filhos, diziam então (não sabendo que estes, a primeira coisa que faziam, era engendrar como desbaratar aquilo tudo).
Hoje, o minador Ter, permite através desta plataforma que, se passem as mesmas dificuldades, mas, e isto é substancial, que se passe a vida com algum conforto e assim, sem megalomanias, podendo mais cedo e em vida útil usufruir de algo que antes nos estava vedado.

Como dizia Albert Einstein [...] O homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social. Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus desejos pessoais, e desenvolver as suas capacidades inatas. Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantes, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. Apenas a existência destes esforços diversos e frequentemente conflituosos respondem pelo carácter especial de um ser humano, e a sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade.[...]

Eu sei, que isto precisava de ser mais desenvolvido, mas além de não ter tempo para isso, ultrapassei a página A4 o que, é uma chatice para quem quer desenvolver alguma coisa na blogosfera.
Por isso, continuemos a ser miseráveis, mas já agora com conforto, e que o Pai Natal vos traga muitos presentes.

O Natal da Dona Amélia

O que se falou na altura, foi que o filho mais novo da Maria Ruiva, o Joaquim Sesta, o viu. – Disse Amélia com o vagar das gentes serranas, enquanto se balouçava na cadeira comprada um ano antes em terras de Espanha e que, não se revelara tão cómoda como então lhe parecera. Edite, a irmã mais nova cinco anos, sentada no escano atiçava o borralho onde assentara a panela com as feijocas… momento depois, seguindo o fumo que saía pelo tecto de telha-vã, foi dizendo sem emoção, como se de uma ladainha se tratasse:- Foi quando andava a encher os balaios nas terras do Zé Pedro e desde esse escusado dia, nunca mais ninguém o viu.

Continuar a ler.

Obras primas da confusão

Eu sei que a noticia, a sondagem ou lá que raio era aquilo, já foi há uns tempos… mas, na altura não escrevi nada sobre isso e agora vem a propósito porque, um obra prima da confusão, enquanto eu fazia o que os homens não gostam de fazer, que é esperar à porta das lojas de gajas, enquanto as mulheres fazem as compras, não se calava com a merda da tal noticia ou sondagem ou lá que raio era aquilo, que o jornal SOL, aqui há atrasado publicou, e, despuduradamente afirmava; que a haver erro, era por defeito.
Dizia o obra prima da confusão que, quanto a ele, eram muitos mas muitos mais, os que queriam que esta merda de país fosse absorvida pelos espanhóis, pois só assim, os portugueses podiam aspirar a uma vida melhor. (palavras textuais desse caridoso ser humano, que falava muito a sério)

Dizia então esse jornal, segundo me recordo que; 27% dos portugueses estariam de acordo com a absorção de Portugal pela Espanha e eu, talvez por ser obviamente estúpido, não entendo uma merda dessas.

Eu sou um republicano que felizmente não sofre do estigma das monarquias absolutistas de 1700 e, por isso, nada me custa elogiar as actuais monarquias espanhola ou luxemburguesa, onde a figura do Rei é de rara capacidade nas relações humanas, porque sou, mesmo com todos os seus defeitos e acima de tudo, um incondicional apoiante da democracia. Por isso não tenho preconceitos sobre os referendos, ou até, em discutir o tal artigo da Constituição da República que exclui a opção do sistema monárquico.

Provavelmente terá (o obra prima da confusão) ouvido falar na globalização e até que a Europa caminha para a união na diversidade cultural, mas daí, a querer entregar o comando ou a representação do que é nosso à Espanha; puta-que-pariu… que a história bem nos ensina e por isso aconselha os que pensam um nico, que já antes assim se iniciou; primeiro com a esperança, que deu lugar à angústia e que resultou na inevitável rejeição de tal solução e portanto, este cruzar de influências, deve sim reforçar o melting pot e a identidade portuguesa.

Infelizmente, estes tipos de sociologia simples, devido a terem puxado muito pela cabeça, estão longe de ser sociologicamente coerentes, caso contrário, veriam as águas poluídas que no verão chegam pelo Guadiana à barragem do Alqueva, veriam como eles impunemente destruem as nossas reservas marinhas com as suas frotas pesqueiras, veriam a cooperação do mercado espanhol aos nossos produtos e serviços e, depois, aqueles que por incapacidade não conseguissem calcular as consequências de tal acto e ainda pensassem que; sendo nós parte de Espanha, esses problemas se resolveriam, perguntassem aos bascos, perguntassem aos catalãos e perguntassem aos galegos, o que pensam dos castelhanos mandarem nas suas terras há séculos?

felizmente, tomara Espanha resolver os problemas dos movimentos independentistas que têm, a querer arranjar mais alguns… mas nós, temos que aguentar esta cambada de obras primas da confusão que, no encosto de um qualquer corrimão, para além de nos exporem ao ridículo dessas noticias, sondagens ou lá que raio era aquilo (que muito devem ter feito rir lá por terras de Espanha), assumem alto e em bom som como se falassem para a posteridade, que gostavam de ser “comidos pelos espanhóis” (para não fazer uso do vernáculo e dizer outra coisa que bem mereciam).

Valha-nos o futebol, que é o único sitio onde estes inanes e outros também, aprendem o Hino Nacional e, se o nosso problema, for de manifesta falta de estaleca para governar, então, que se recorra ao outsourcing e se contrate um alemão com provas dadas ou até um irlandês, para vir fazer umas horas.

Regressado para o devir

A criança olhou na sua direcção e desviou desinteressada a atenção. Não tinha ainda estrutura para desenvolver o subjectivo do enigma que era um estranho aventurar-se a entrar no seu bairro. Tivesse, e depressa correria para casa.
Fernando viu-o e percebeu que o desinteresse resultava de ainda não ter adquirido o traço fino do aguilhão que vicia a memória, ganhá-lo-ia rapidamente, sabia-o bem, tão bem, como conhecia aquele bairro. A memória não actua separada, é alimentada por um campo que por sua vez alimenta a sua base de informação, e sabia que perderia também a noção de segurança; ganhando conhecimento sobre a precariedade da existência.